quarta-feira, 27 de julho de 2011

Livro: "Guerras por Água" de Vandana Shiva

Com o subtítulo de “Privatização, poluição e lucro”, Vandana Shiva não deixa dúvidas do que vai tratar no terceiro livro publicado pela Radical Livros: a apropriação de um bem comum fundamental para a humanidade por parte de grupos políticos e económicos interessados em transformar um direito do homem em fonte de lucro.
Guerras por água

Neste livro, Vandana Shiva demonstra como algo tão precioso quanto a água, essencial para a sobrevivência da nossa espécie, é um dos principais componentes dos conflitos do Médio-Oriente, conflitos muitas vezes mascarados como sendo apenas de ordem religiosa.
Esse bem, sem o qual a vida humana não é possível, tem vindo a ser privatizado e transformado em fonte de lucro para grandes empresas multinacionais e transnacionais, enquanto os governos pouco fazem para inverter esse quadro no contexto da assim chamada globalização.
Por trás desse movimento estão relacionados todos os mecanismos de apropriação da natureza com o único objetivo de reproduzir continuamente o capital, numa acumulação sem fim e sem sentido. Ao privatizar a natureza e seus recursos naturais, o homem torna-se responsável não apenas pela dizimação de sua própria espécie, mas pela destruição do planeta Terra.
Grandes enchentes, furacões, ciclones, desertificação de terras antes cultiváveis, todos os fenómenos “naturais” inter-relacionados e causados pela exploração da natureza baseada somente no lucro e no desprezo à vida humana.
Guerras por água descreve e analisa o actual estado de privatização da água e a ligação desta com uma agricultura comercial, que desconsidera os métodos tradicionais e auto-sustentáveis praticados à milénios, que são eliminados na ânsia por lucro e nada mais.
Este livro mostra, ainda, que “se as guerras do século XX foram disputas por petróleo, as guerras do século XXI serão travadas por água”.
Para saber mais: releasebiografia da autora, um excerto do livro e a capa em alta resolução.
Não deixe de ler também a excelente entrevista que publicamos aqui no sítio: Monoculturas da mente: uma entrevista com Vandana Shiva.


População do Cartaxo vence primeira batalha pela revisão do tarifário da água


Durante o mês de Agosto, o executivo da Câmara Municipal do Cartaxo e a administração da Cartágua vão delinear um novo tarifário para o serviço de abastecimento de água e saneamento no concelho.
O novo modelo será proposto para aprovação em reunião de Câmara e Assembleia Municipal no início de Setembro.
Foi este o resultado da Assembleia Municipal extraordinária de terça-feira, 26 de Julho, convocada a partir de uma petição popular que reuniu, em poucos dias, mais de 3 mil assinaturas de munícipes descontentes com os aumentos aplicados no passado mês de Junho pela empresa concessionária.
Foi uma tarde particularmente quente no Cartaxo.
Inicialmente marcada para as 17 horas na sala de reuniões dos Paços do Concelho, a sessão acabou por realizar-se duas horas mais tarde, no Centro Cultural.
Na Câmara, os muitos munícipes que não tinham lugar dentro da sala protestaram ruidosamente, impediram o início dos trabalhos e exigiram a mudança para um local maior.
A solução de recurso foi o Centro Cultural, por onde passaram mais de 300 populares, número nunca antes registado em reuniões deste órgão.
Todos os eleitos do PS – o presidente Paulo Caldas, os vereadores no executivo e os membros da Assembleia – sentiram na pele e de viva voz o descontentamento e a revolta dos cartaxeiros.
Entre interrupções, insultos, impropérios e muita barafunda entre o público, os responsáveis pela gestão do município foram responsabilizados pelos aumentos das tarifas e vaiados por não terem acautelado a defesa dos consumidores no acesso a um bem essencial como a água.
Embora em menor escala, os dois administradores da Cartágua presentes na sessão também não escaparam às críticas contundentes que vários populares fizeram durante as suas intervenções.
Paulo Caldas, muitas vezes assobiado e interrompido enquanto falava, assumiu logo desde início que “os problemas levantados têm razão de ser e estão a ser analisados com a Cartágua no sentido de haja uma efectiva melhoria do serviço”, nomeadamente a nível da facturação detalhada e da informação prestada aos munícipes.
Concordou ainda que há tarifas cobradas ao comércio e indústria que precisam de ser revistas, mas as suas explicações pouco apaziguaram os ânimos, até porque se recusou a falar dos investimentos em ETAR’s e infra-estruturas que já deviam estar a ser concretizados, e não estão.
A nível político, os eleitos dos partidos da oposição apontaram o dedo aos membros do PS na Assembleia Municipal e aos presidentes de Junta, que aprovaram a revisão do contrato de concessão nove meses depois do primeiro tarifário ter entrado em vigor.
Vêr o video da revolta da população do Cartaxo, que foi à assembleia municipal e tais foram os protestos que conseguiu obrigar a câmara municipal a admitir rever os tarifários da água.

Fonte: O Ribatejo

terça-feira, 26 de julho de 2011

Livro: "Ouro Azul" — Como as Grandes Corporações Estão se Apoderando da Água Doce no Planeta

Neste livro, “Ouro azul” de Maude Barlow e Tony Clarke, os autores demonstram como o planeta se aproxima rápida e perigosamente de uma crise mundial pela água, enquanto a fonte de vida por excelência começa a fazer parte de um mercado global e é, cada vez mais, assunto de acesas disputas na arena política internacional.

Gigantes corporativos, investidores privados e governos corruptos já competem pelo controlo dos nossos fornecimentos de água potável que são cada vez mais escassos. De acordo com dados da Unesco, uma pessoa deve ter no mínimo, para a sua sobrevivência, 50 litros de água limpa por dia, mas sabemos que isto nem sempre acontece.


O livro também documenta como os conglomerados capitalistas, indústrias pesadas e fornecedores de água engarrafada, entre os quais dois gigantes dos refrigerantes, estão a apropriar-se das fontes de água potável do globo, engarrafando o líquido, para depois vendê-lo a preços exorbitantes. "Essas práticas devastam os ecossistemas e prejudicam todas as comunidades em redor do mundo", revela Barlow.
Maude Barlow é uma das mais conhecidas oradoras, organizadora e comentadora dos média no Canadá. Ela é diretora nacional do Conselho dos Canadenses e co-fundadora do Blue Planet Project, movimento global de cidadãos para a protecção da água.
Tony Clarke é director do Instituto Polaris do Canadá e dirige o comité sobre corporações para o Fórum Internacional sobre Globalização.

AMGAP teme privatização da Águas de Portugal e quer renegociar parceria com Governo

A Associação de Municípios para a Gestão da Água Pública (AMGAP) quer discutir com a ministra do Ambiente uma proposta de renegociação da sua parceria pública com o Estado, que pode estar "em risco" com a eventual privatização da Águas de Portugal (AdP).

   
Em declarações à Lusa esta segunda-feira, 25, o presidente da AMGAP disse que a associação vai pedir uma reunião à ministra do Ambiente para discutir uma "proposta de renegociação da parceria", porque as circunstâncias actuais são "completamente diferentes em vários pontos de vista" das que existiam quando a parceria foi celebrada.
A eventual privatização da AdP e o futuro da parceria, entre outras questões, serão discutidas na reunião, disse José Maria Pós-de-mina, que admitiu que a privatização total ou da maioria do capital da AdP pode pôr "em risco" a parceria com o Estado.
Através da parceria, a AdP, em representação do Estado, e a AMGAP, criaram em 2009 a empresa Águas Públicas do Alentejo para melhorar e gerir o abastecimento em alta e o saneamento de águas residuais nos concelhos parceiros.
A empresa, integrada no sector empresarial do Estado, é detida em 51 por cento pela AdP e em 49 por cento pela AMGAP, que é formada por 14 municípios do distrito de Beja, quatro de Évora e três de Setúbal.

Água: Criadas a AMGAP-Associação de Municípios para a gestão da Água Pública e a empresa Águas Públicas do Alentejo SA.

28-09-2009
Vinte e um (21) municípios alentejanos criaram a AMGAP-Associação de Municípios para a gestão da Água Pública e a empresa Águas Públicas do Alentejo SA, entre a AMGAP e as Águas de Portugal.


Vinte e um municípios do Alentejo criaram a Associação de Municípios para a gestão da Água Pública (AMGAP) e a empresa Águas Públicas do Alentejo SA, com as Águas de Portugal (AdP), que vai gerir o sistema de abastecimento de água em alta e saneamento.
Os autarcas já escolheram os dirigentes da nova associação e da futura empresa, com José Maria Pós-de-Mina (Câmara de Moura-CDU) a assumir a presidência do Conselho Executivo. A Comissão de Gestão da Parceria com a AdP, é liderada pelo ex-presidente da edilidade de Évora, Abílio Fernandes e Jorge Rosa (Mértola-PS). No Conselho de Administração da empresa Águas Públicas do Alentejo SA, José Figueira (Vendas Novas-CDU) e António Camilo (Odemira-PS) serão os representantes das autarquias, enquanto que na Comissão de Vencimentos está Pedro Paredes (C.M.Alcácer do Sal-PS).
Na sexta-feira, após a reunião dos municípios, José Maria Pós-de-Mina, presidente da Câmara Municipal de Moura, e porta-voz da associação, falou dos “passos a seguir” e a importância que “o acordo” tem para as populações.


O Estado e vinte e um municípios do Alentejo vão investir cerca de 227 milhões de euros, entre 2010 e 2015, para melhorar o abastecimento e o saneamento regionais de água, no âmbito de uma parceria pública de 50 anos, que será explorada e gerida pela sociedade anónima constitui, denominada, Águas Públicas do Alentejo SA. Esta empresa será participada em 51 por cento pelas Águas de Portugal, representante do Estado, e 49 por cento, da AMGAP, associação integrada pelas autarquias.

Fonte: Destakes



"A água é um bem natural, indispensável à vida. 
Como a própria vida, não é privatizável."

ilustre desconhecido

Privataria


«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo… e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»


José Saramago 
in Cadernos de Lanzarote – Diário III

Cartaxo contra aumento do preço da água

Cerca de 80 cartaxeiros concentraram-se junto à empresa Cartágua na sexta-feira, 15 de Julho, para protestar e pedir esclarecimentos sobre os súbitos aumentos da água cobrados nas facturas de Junho.

Indignados, os populares, na sua maioria reformados e pensionistas, dizem não compreender a que se devem estas subidas e acusam a empresa privada que ganhou a concessão dos sistemas de água e saneamento no concelho de não dar as devidas justificações.

Fonte: O Ribatejo


VIDEO DO PROTESTO AQUI.

Assembleia municipal discute aumento da factura da água contestada por cidadãos
15 de Julho de 2011, 12:30

Um grupo de cidadãos do Cartaxo entregou na assembleia municipal um abaixo-assinado com mais de 2.000 assinaturas a pedir uma sessão extraordinária para discutir o aumento da factura da água no concelho, entretanto agendada pelos eleitos municipais.

“Exigimos a revisão do contrato e dos preços da água para níveis mais decentes porque, nalguns casos, as faturas aumentaram cerca de 200 por cento em relação aos meses anteriores” (...).

“As pessoas sentem-se traídas pela autarquia, que foi buscar dinheiro com esta concessão e agora está a desbaratar esse dinheiro e a colocar em cima dos munícipes a fatura do negócio”, acrescentou o porta-voz do movimento de cidadãos.

Fonte: Sapo


Assembleia de iniciativa popular sem efeito
2011-07-15 16:15:40

Ficou sem efeito a assembleia municipal extraordinária de iniciativa popular, marcada para dia 26 de Julho, pelas 5 da tarde.

As 2051 assinaturas entregues à presidente em exercício necessitavam das correspondentes certidões de eleitor e residente, que deveriam ser obtidas junto das juntas de freguesia, e que não acompanhavam o processo, o que fez com que a presidente tivesse de o rejeitar.


domingo, 24 de julho de 2011

Quem está interessado na privatização da água em Portugal







Fomentinvest avança com bancos para compra da Aquapor
2008-03-03

Já a dar cartas no sector da energia, nomeadamente na biomassa e no solar, a Fomentinvest é uma das empresas que vai marcar presença na lista de concorrentes.

Para o efeito, a empresa, liderada por Ângelo Correia, estabeleceu uma parceria com a Espírito Santo Concessões - holding para a área de concessões que resulta de uma parceria entre a Mota-Engil e o Banco Espírito Santo –, a Espírito Santo Capital-Sociedade de Capital de Risco, o Banif Banco de Investimento, o Banif – Sociedade de Gestão de Investimento e a Sisaqua.

Câmara de Leiria autorizada a entregar água e saneamento a privados

PSD quer impugnar decisão.


A Assembleia Municipal de Leiria autorizou na segunda-feira, por maioria, a câmara a concessionar o abastecimento de água e saneamento a privados por 30 anos. A autarquia estima poder encaixar cerca de 30 milhões de euros.



A deliberação obteve 29 votos favoráveis do PS, 22 contra e duas abstenções dos deputados da oposição - PSD, CDS-PP, CDU e BE. 

Os sociais-democratas anunciaram que vão impugnar a decisão, alegando que o regimento da Assembleia Municipal determina que “a concessão de exclusivos e de obras e serviços públicos não poderá ser feita por prazo superior a 20 anos”.

Em declarações ao PÚBLICO, o presidente da câmara, Raul Castro (independente eleito pelo PS), adiantou nesta terça-feira que o prazo da concessão poderá ser alterado no caderno de encargos, passando para 20 anos com hipótese de prolongamento por mais dez.

Vitor Lourenço, do PSD, justificou o voto contra com a impossibilidade de passar um “cheque em branco” a este negócio e com “a ausência de estudos fundamentados para uma discussão alargada”.

Os sociais-democratas criticaram ainda a “pressa” na aprovação do processo, por entenderem que não foram esgotadas as possibilidades de negociação com a Águas de Portugal e serem desconhecidas as intenções do novo governo nesta matéria.

O CDS-PP sublinhou também a necessidade de “mais tempo” para debater este assunto, enquanto o CDU considerou que a privatização do serviço de águas e saneamento “é um grave crime” contra o município. O BE opôs-se à proposta por ser “contra a privatização de todos os bens essenciais”.

Já António Sequeira, deputado municipal pelo PS, referiu que a decisão de aprovar a concessão se deve à “deplorável situação financeira que esta Câmara herdou”.

Com a concessão dos serviços, o presidente da câmara acredita que a população do concelho ficará “melhor servida”, já que permitirá executar investimentos para aumentar a taxa de cobertura do saneamento, que ronda os 70 por cento.

As “dificuldades financeiras” que o município enfrenta – e que já levaram a que o estádio municipal, feito para o Euro 2004, fosse posto à venda por 63 milhões de euros – impedem a utilização de fundos comunitários para executar os investimentos necessários para melhorar a rede.

A empresa que vencer o concurso (ainda sem data marcada) terá de apresentar um plano de investimento a oito anos, de 30 milhões de euros para o saneamento e cerca de 12 milhões para o abastecimento de água. Além disso, terá de actualizar o tarifário nos próximos cinco anos de forma condicionada, manter todos os postos de trabalho dos funcionários dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento, adquirir todo o material que pertence aos serviços e adiantar 40 por cento das rendas.

A concessão das águas e saneamento resulta, diz o autarca, do “impasse criado pela Águas de Portugal” na constituição de uma parceria com Leiria e com mais 12 municípios da Região Centro.

Fonte: PÚBLICO

Depois de Paris é a vez de Berlim remunicipalizar a água

Depois de Paris, que decidiu voltar a gerir a própria água não renovando o contrato com as multinacionais francesas Suez (1) e Veolia, agora é a vez de Berlim, que no dia 13 de fevereiro resolveu, para surpresa geral, dar um stop ao processo de privatizaçao da gestão hídrica.

Berlim quer a água pública. Convidados para votar os berlinenses decidiram pelo “sim” no referendo pelo anulamento da privatização parcial da sociedade de gestão dos serviços hídricos. Trata-se de uma vitória esmagadora: 98%, de um total de mais de 678 mil eleitores votaram por uma maior transparência dos contratos.
O referendo pedia a integral e imediata publicação do contrato com o qual em 1999 Berlim, para encher os cofres do Estado, vendeu 49,9% da empresa de gestão hídrica da cidade ((Berliner Wasserbetriebe)) à Rwe e Veolia. Segundo os defensores do referendum a partir daquele momento a conta da água na cidade teve um aumento de 35% e está entre as mais altas entre as cidades alemãs(2).
No mês de novembro de 2010,respondendo às reivindicações dos promotores do referendo a prefeitura de Berlim publicou cerca de 700 páginas do contrato de privatização parcial. Desses documentos emerge que a cidade garantiu altos margens de lucro à RWE e Veolia que, entre 1999 e 2009, ganharam mais do que Berlim, apesar da cidade deter 50,1% das ações da empresa de gestão hídrica (3).
Dorothea Härlin, do comitê referendário, sublinhou a importância internacional do sucesso do referendo e lembrou que não apenas os berlinenses mas os cidadãos do mundo inteiro lutam pela água.
Notas:
  • (1) – A Suez é a mesma multinacional francesa que em 2000 passou a gestir a “Águas do Amazonas” criando não poucos problemas à população de Manaus com aumentos da conta, endividamento das famílias e falta de água – e de água potável – gerando a CPI das águas de 2005 promovida pela Câmara de Vereadores
  • (2) – De 2001 até hoje a conta de água em Berlim aumentou 35% e atualmente é uma das mais caras da Alemanha. Na cidade um metro cúbico de água custa 5,12 euros, em Colonia, por exemplo, 3, 26.
  • (3) – Na parceria entre Rwe (companhia eletrica alemã) , Veolia (multinacional francesa da água) e Berliner Wasserbetriebe ( a empresa de gestão da água) a partir de1999 até hoje quem lucrou mais com o business da água foi mesmo a parte privada: 1,3 bilhões para Rwe e Veolia contra 696 milhões para a cidade de Berlim.

O combate à privatização da água em França

Em Paris, a água foi remunicipalizada a 1 de Janeiro de 2010 e o seu preço baixará 8% a 1 de Julho de 2011, enquanto em 25 anos de gestão privada (1985-2010) a factura da água subiu 260%. Em Grenoble, a “remunicipalização” do serviço de água levou a que a taxa de manutenção, de renovação e de melhoria dos equipamentos tenha triplicado e permitiu que hoje a cidade disponha de água a preço e qualidade notáveis.

Publicamos aqui o artigo “L’eau privatisée, le temps des résistances” (A água privatizada, o tempo das resistências), de Christian Aubin


A água constitui um bem comum da humanidade cujo acesso para todos deveria ser considerado como um direito fundamental. Mas, para os homens de negócios que estão no comando da União Europeia trata-se de uma mercadoria como as outras. Por isso, eles incluíram o fornecimento da água, assim como o tratamento dos resíduos, no AGCS (Acordo Geral sobre Comércio dos Serviços).
Mais de mil e quinhentos milhões de pessoas no mundo não têm acesso a água potável e mais de 30.000 morrem todos os dias por problemas de saúde que têm a ver com o acesso à água. A gravidade desta situação conduziu as Nações Unidas estabelecer o objectivo de reduzir para metade, até 2015, a percentagem da população mundial que não tem acesso a água potável de forma satisfatória. Mas um obstáculo maior a esta ambição foi levantado em Haia, em 2000, quando 118 Estados assinaram um texto que opõe a noção de direito fundamental à de necessidade vital. Esta concepção foi confirmada na Cimeira Mundial da Água, no México, em Março de 2006. Conclui-se daí que a necessidade de satisfazer essa necessidade leva a considerar a água como uma mercadoria que deve ser vendida a “justo” preço – de facto, o preço que permita às multinacionais da água ganharem lucros chorudos.
Os povos da América Latina levantaram-se contra esta situação. NaBolívia, as revoltas de Cochabamba obrigaram o trust Bechtel a abandonar o país. No Uruguai, a água foi inscrita na Constituição como um bem comum que não pode ser privatizado. No Brasil, a Lyonnaise de Eaux teve de abandonar a sua concessão. Em Março de 2006, a Grande Buenos Aires rompeu o contrato com a Aguas Argentinas, filial da Lyonnaise.
Em França, as três grandes multinacionais da água partilham mais de 80% do mercado interno: Véolia (ex CGE – Compagnie Générale des Eaux), Ondéo Suez (a Lionnaise des Eaux) e a Saur-Bouygues. É uma situação de excepção que assenta numa parceria do tipo “delegação dos serviços públicos”, também chamada “escola francesa da água”, assim como num “laxismo dos eleitos”. Estas multinacionais esforçam-se evidentemente por exportar o modelo para o resto do mundo, onde a distribuição da água é na maior parte dos casos pública, da ordem dos 80% a 90% em média (95% nos Estados Unidos).
Este modelo é muito atraente e lucrativo para as multinacionais pois gera um crescimento rápido com lucros formidáveis (margens de 40% a 55% segundo a Que Choisir? de Novembro de 2007)... em detrimento dos utentes (tornados “clientes”) cujas facturas são 20% a 25% mais elevadas do que quando em domínio público, para não falar dos casos ainda muito mais escandalosos.
Desde Janeiro de 1999, o jornal mensal La Grande Relève abordava este assunto num número especial intitulado “Mas para onde vai o serviço público?”. No caso da distribuição da água, nós interrogávamo-nos sobre o que acontece ao serviço público quando se transforma em serviço ao público com estatuto privado... É o modelo a seguir? Perguntávamos. Dez anos depois, a resposta a esta questão é dada pelas mobilizações cidadãs que põem em causa a gestão privada da água:
- Em Paris, após 25 anos de gestão privada assegurada por duas multinacionais que são as primeiras sociedades de gestão da água em França e no mundo, a água foi remunicipalizada a 1 de Janeiro de 2010. O alcance simbólico deste acontecimento é considerável já que Paris, onde estão as sedes destas sociedades, é considerada como o centro mundial da privatização da água.
- Em Grenoble, os habitantes souberam pela imprensa, em Julho de 1994, as condições ilegais em que os serviços públicos de distribuição da água e saneamento foram privatizados em 1989. Cinquenta cidadãos escandalizados decidiram então criar a associação Eau Secours! tendo como objectivo a defesa do serviço público da água.
Esta iniciativa pode ser considerada exemplar porque levantou os problemas da democracia, da tomada de decisão e da solidariedade na cidade, e porque mostrou o controlo que os cidadãos podem exercer sobre os serviços públicos (ver documento em francês). Para retirar a gestão da água das mãos do sector privado, os cidadãos tiveram de demonstrar o nível de corrupção implicado nas escolhas de serviço impostas pelos dirigentes da multinacional. Foram organizadas reuniões públicas, foram feitos controlos das facturas da água, contra a vontade das autoridades locais, foram apresentadas queixas para procedimento judicial, com o objectivo de obter justiça. O processo judicial foi longo e trabalhoso: o primeiro processo foi depositado em 1989; a Câmara Regional de Contas só pegou no dossier em 1995; só em 1997 o Conselho de Estado anulou a decisão da delegação do serviço público de água e o regime estabelecido pela multinacional, a seguir à delegação, foram anulados em 1998. O julgamento de recurso sobre o caso de corrupção só se realizou em 1996, enquanto que os factos tinham ocorrido entre 1989 e 1990 e foram revelados em 1993.
Uma empresa transparente foi então recriada e constatou-se rapidamente que, com esta retomada pública do controlo da água, a qualidade progrediu; os custos baixaram e as decisões tornaram-se mais transparentes: comunicar integralmente a informação ao público tornou-se regra para a administração pública local, que para conseguir estes resultados assegura todas as tarefas essenciais, enquanto que outros serviços são confiados a prestadores privados, escolhidos através de concurso.
O pessoal cumpre agora a sua missão de serviço público independentemente do mercado e de qualquer interesse do lucro privado. Libertados do fardo do lucro privado, os empregados e os funcionários aplicam no quotidiano os objectivos da política pública. Isto permite fundar o desenvolvimento do serviço numa perspectiva de longo prazo, favorável à protecção dos recursos, à manutenção e renovação regular dos equipamentos, à realização de investimentos importantes e conduzir uma política de redução do consumo e de assistência social às famílias com dificuldades. Em consequência, a taxa de manutenção, de renovação e de melhoria dos equipamentos mais que triplicou em relação à situação existente nos anos 90 sob a gestão da multinacional. Hoje, a cidade de Grenoble dispõe de água a preço e qualidade notáveis.
Tendo assim atingido os seus objectivos iniciais em Grenoble, a associação Eau Secours! estendeu as suas acções a nível regional, num perímetro que corresponde à agência da água Rhône-Méditerranée. Ela opôs-se nomeadamente a um projecto de duplicação da conduta de água de Grésivaudan.
Eau Secors! participa na Coordenação nacional das Associações de Consumidores de Água (CACE). A “remunicipalização” do serviço de água em Grenoble inspirou já numerosas outras cidades e acções cidadãs em França.
É preciso que o seu exemplo vá ainda mais longe.
Extracto do artigo de Christian Aubinpublicado em La Grande Relève, traduzido por Carlos Santos


Fonte: http://bit.ly/oq81Bg